13 de setembro de 2007

CRESCIMENTO OU GRANDEZA

Crescimento ou grandeza - Jornal do Commercio - 07/09/2007

Escrito por: Cristovam Buarque


Recentemente, visitei o Cariri, interior do Ceará, fazendo caminhadas pela Campanha "Educação Já". Visitei a região, ouvindo, conversando, participando de manifestações em defesa de uma revolução na educação brasileira. Num evento, o Deputado Estadual Ferreira Aragão, um grande locutor, disse: "não queremos apenas crescer, queremos ser grandes".

Aproveitando a Semana da Pátria, deveríamos refletir sobre a diferença entre crescimento e grandeza. Tentar entender como foi que o Brasil se acostumou a querer crescer, e deixou de querer ser um grande País.

Crescer, por exemplo, é aumentar a renda nacional; ficar grande é distribuí-la. Crescer é aumentar o número de cadeias; ficar grande é não precisar delas. Crescer é ver a população aumentar, ter mais crianças nascendo a cada ano; ficar grande é tê-las na escola, fora das ruas, e ter todas as escolas – para rico ou pobre, em cidades grandes ou pequenas – com a mesma qualidade. Crescer é ter mais automóveis nas ruas; ficar grande é ter um trânsito que flui com conforto e sem engarrafamento. Crescer é derrubar árvores para utilizar a madeira; ficar grande é produzir protegendo a natureza.

Paradoxalmente, o Brasil cresce ficando pequeno. Nossas cidades cresceram, mas não ficaram grandes, pois também cresceu a violência, a poluição, a desorganização familiar. Nossos partidos também estão crescendo, mas não estão ficando grandes, pois lhes falta uma causa que mobilize seus militantes, uma bandeira de luta para levar adiante. E essa bandeira de luta deve ser fazer do Brasil um grande país, e não um país que cresce. Crescer é aumentar o número de famílias que recebem Bolsa-Família; ficar grande é reduzir o número de famílias que precisem da Bolsa-Família, até que não haja mais nenhuma.

O mais grave é que não percebemos a diferença entre crescer e ficar grande. Queremos crescimento, mas não buscamos grandeza.

Não há grandeza em deixarmos de garantir boa escola para 82% das nossas crianças. Não há grandeza em comemorarmos a matrícula de 97% de crianças na escola, sem nos preocuparmos com aquelas que, já no início da vida, ficaram de fora. Nada demonstra mais pobreza do que permitir que só concluam o Ensino Médio um terço dos nossos jovens, a metade deles com um ensino de qualidade razoável. Podemos até ter tido algum crescimento, mas não houve grandeza.

Embora não se possa culpar ninguém, é preciso assumir a responsabilidade. E todos precisamos agir, para combater a mediocridade do nosso projeto de crescimento. Tenho conclamado o Senado Federal para que retomemos aquilo a que a história nos obriga: que sejamos a Casa onde se constrói a grandeza do Brasil. Que deixemos de lado a mediocridade do dia-a-dia, a agenda do crescimento e do tapa-buracos, e passemos a refletir sobre nossa cultura, nossa história, nosso futuro, nossa grandeza.

O Congresso Nacional precisa estimular essa discussão, porque nossa grandeza é uma questão federal. Precisa deixar de lado planos e medidas para fazer-nos crescer, e discutir reformas estruturais para que sejamos um País grande, para revolucionar a educação, eliminar as filas dos hospitais, construir um desenvolvimento sustentável, desenhar um projeto de grande Nação.

Crescimento não é sinônimo de grandeza. Está na hora de nós, líderes deste País, irmos além dessa visão medíocre de crescimento, deixarmos de acreditar que crescer é sinônimo de ser grande, quando, de fato, não é. O Sete de Setembro é um bom momento para essa reflexão.


cristovam@senador.gov.br